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terça-feira, 12 de junho de 2012

CPI DO CACHOEIRA - Após 8 horas na CPI, Perillo nega influência de Cachoeira no governo


Governador se disse 'injustiçado' com ligação de seu nome com bicheiro.
Ele negou contradição sobre venda da casa na qual Cachoeira foi preso.

Felipe Néri, Priscilla Mendes e Vítor MatosDo G1, em Brasília


Marconi Perillo durante depoimento à CPI do
Cachoeira (Foto: Wilson Dias / Agência Brasil)

Em depoimento de oito horas e meia à CPI que investiga as relações do bicheiro Carlinhos Cachoeira com políticos e empresários nesta terça-feira (12), o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB-GO), negou envolvimento pessoal com o contraventor e também rejeitou suspeitas de que o grupo que explorava o jogo ilegal no estado tivesse algum tipo de influência em sua gestão.

"Não há nenhum ato do governo de Goiás, no meu governo, em beneficio ou na direção do que suscita os diálogos divulgados na imprensa sobre a Operação Monte Carlo", disse Perillo no depoimento sobre a operação da Polícia Federal que prendeu Cachoeira. Servidores de seu governo, como a ex-chefe de gabinete, um assessor direto e o presidente do Detran, pediram demissão após divulgação do suposto elo com o grupo do bicheiro.

"Eu rechaço veementemente a possibilidade de corrupção no meu governo", completou o governador.

Investigação da Polícia Federal apontou suposta influência de Cachoeira no governo de Goiás. O bicheiro teria relações com auxiliares do governador. Em uma das gravações de escutas telefônicas autorizadas pela Justiça, a PF capturou um telefonema em que Perillo cumprimenta Cachoeira pelo aniversário do contraventor. Há suspeita de que uma casa vendida pelo governador tenha sido comprada indiretamente por Cachoeira, numa transação que teria envolvido assessores de Perillo. Em fevereiro, durante a Operação Monte Carlo, a Polícia Federal prendeu Cachoeira nessa casa.

Perillo começou a depor às 10h30 e falou por pouco mais de uma hora antes de começar a responder perguntas de deputados e senadores. Em suas considerações iniciais, ele afirmou que se sente "vítima de uma grande injustiça".

Por volta das 11h45, passou a ser questionado pelo relator da CPI, deputado Odair Cunha (PT-MG), e em seguida pelos demais parlamentares. Sobre a venda de sua casa, na qual Cachoeira foi preso pela PF, ele negou que haja contradições nas versões - há ao menos quatro versões para a venda do imóvel.

Durante o depoimento, Perillo citou ainda que "muitas pessoas gostariam de desestabilizar" seu governo. "Acho que muitas pessoas gostariam de desestabilizar o meu governo. Agora, eu jamais diria que essa é a intenção da CPI."

Bate-boca na CPI
Uma pergunta do relator desencadeou um tumulto e um bate-boca entre os parlamentares na sessão. Cunha perguntou a Perillo, que depôs na condição de testemunha, se o governador estaria disposto a autorizar a quebra de seu sigilo telefônico.

De imediato, parlamentares da oposição se dirigiram aos gritos ao relator, reclamando da indagação de Odair Cunha. "Ele [Perillo] nao é investigado. [...] O relator se perde, ele está aqui como testemunha", gritou o deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP."O governador Marconi Perillo é, sim, investigado pela CPI", respondeu Cunha. Depois, o presidente da comissão esclareceu que o governador não era investigado, mas sim testemunha.

Relações com Cachoeira
Em sua fala, Perillo destacou que "não há fato concreto" nas interceptações telefônicas que apontam o envolvimento de servidores em irregularidades.

"Não há consequência prática entre as conversas e as ações do meu governo. Por uma razão muito simples: nunca tive proximidade com o Sr. Cachoeira."

Ainda segundo governador, na investigação da Polícia Federal não há registro de nenhum telefonema que ele tenha recebido de Cachoeira. Ele contou que, no telefonema que fez ao bicheiro, estava na casa de um amigo, durante uma reunião social, quando alguém lembrou que era dia do aniversário de Cachoeira e perguntou a ele se não gostaria de cumprimentá-lo. Perillo disse ter o hábito de parabenizar as pessoas pelos aniversários.

"Não estava telefonando para o contraventor, mas para o empresário", declarou Perillo, em referência aos negócios de Cachoeira na área da indústria farmacêutica em Goiás

De acordo com Marconi Perillo, o único encontro formal entre ele e Carlinhos Cachoeira se deu na sede do governo. "Ocorreu no Palácio das Esmeraldas, em audiência, como empresário, formalmente solicitada para tratar de assuntos da Vitapan (empresa farmacêutica)." A Vitapan é oficialmente da ex-mulher de Cachoeira, mas, segundo a PF, continua sendo comandada pelo bicheiro.

O líder do PT na Câmara, deputado Jilmar Tatto, ironizou as declarações de Perillo. "No mínimo, o senhor nao tem muita sorte. [...] O senhor vende uma casa, quem compra é o Cachoeira. Num momento de descuido, o sr. liga pro Cachoeira e a PF grampeia. E agora, por um azar do destino, a filha do senhor é colega da sobrinha do Cachoeira."

Jogo ilegal
Perillo disse que não tem vínculos com Cachoeira e que, durante o governo dele, houve combate à contravenção e apreensão de máquinas caça-níqueis.

"O senhor nunca foi informado sobre as ações do principal contraventor do seu estado?”, perguntou o deputado Filipe Pereira (PSC-RJ). “Esse é um juízo de valor que o senhor está fazendo. Eu conheci como empresário”, respondeu o governador.

Depois, ao ser perguntado sobre sua posição a respeito do jogo, Perillo respondeu: "Não jogo e sou contra o jogo. Entre a hipocrisia reinante e a legalização, talvez fosse mehlor que uma providência como essa fosse tomada. Embora repita: se fosse votar aqui no congresso, votaria contra".

Venda da casa
O governador negou ainda que existam contradições em relação à versão que apresentou sobre a venda da casa da qual era proprietário, em Goiânia. "Na minha opinião, essa história da casa está absolutamente explicada", declarou.

Há quatro versões para a venda da casa. Em depoimento à CPI, no último dia 10, o delegado Matheus Mella, da PF, que coordenou a Operação Monte Carlo, disse que a casa foi comprada pelo sobrinho de Carlinhos Cachoeira e que o governador Marconi Perillo recebeu R$ 1,4 milhão em três cheques.

Na versão de Perillo, quem intermediou a venda foi o ex-vereador de Goiânia Wladimir Garcez, mas a escritura saiu em nome do empresário Walter Paulo Santiago. Afirmou que recebeu R$ 1,4 milhão em três cheques.

Perillo voltou a afirmar que Perillo afirma que seu ex-assessor Lúcio Fiúza estava presente no ato da venda da casa de Garcez para Walter Paulo apenas para "dar legitimidade".

Não adianta forçar a barra. Quem pediu para comprar a casa foi o Garcez."

Governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), aos integrantes da CPI do Cachoeira

Garcez disse que comprou a casa para si e que pediu dinheiro emprestado a Cachoeira e a Cláudio Abreu, ex-diretor da empresa Delta. Depois, teria verificado não que a quantia que possuia não suficiente para pagar a dívida e disse que revendeu o imóvel a Walter Paulo Santiago.

À CPI, Santiago afirmou que pagou em dinheiro pela casa para Lúcio Fiúza, ex-assessor do Perillo, e para Wladimir Garcez. Disse que, depois de comprar, emprestou a casa a Garcez, que, por sua vez, a emprestou a uma amiga, Andressa Mendonça, mulher de Cachoeira.

O relator Odair Cunha questionou sobre o fato da escritura a casa não ter saído em nome de Garcez. "Durante longo tempo cogitou-se que vendi para o Cachoeira. Restou provado que não foi. Ocorre que não adianta forçar a barra. Quem pediu para comprar a casa foi o Garcez. Acertamos o valor e ele ficou de pagar com cheques pré-datados. Não tinha como eu escriturar a casa sem ter os cheques pagos. Segundo, eu não tinha como, não tinha bola de cristal, que o sr. Garcez tinha recorrido aos seus patrões", respondeu Perillo.

VEJA TAMBEM

O governador disse que não viu quem eram os emitentes dos cheques. Nas cópias dos cheques entregues por Perillo à CPI, o emitente é a Excitant Indústria e Comércio, empresa que, de acordo com a PF, pertence a uma cunhada de Cachoeira - segundo a investigação da Polícia Federal, a Excitant recebeu depósitos da Alberto e Pantoja, empresa fantasma que supostamente abastecia as contas do grupo de Cachoeira.


Delta
Perillo negou que Garcez o tenha procurado para falar de pleitos de Cachoeira ou da Delta que, segundo a PF, ajudava o esquema do bicheiro.

Ele disse, porém, ter conhecimento de que Garcez procurava órgãos do governo com essa intenção.

"Garcez nunca me levou pleito algum de Cachoeira. Sei que levou a alguns órgãos do governo pleitos da Delta. Ele recebia um valor da Delta e um menor do Cachoeira. A mim, ele nunca levou pleito da Delta e do Cachoeira".

Segundo o governador, a Delta recebeu R$ 14 milhões em 2011 e R$ 4 mihões em 2012 por obras resultantes de contratos com o governo de Goiás.

Nomeações
O governador também foi perguntado sobre se foram nomeadas pessoas a pedido do senador Demóstenes Torres (sem partido-GO), que responde no Conselho de Ética por supostamente ter beneficiado o bicheiro, ou de Wladimir Garcez.

Sobre Garcez, ele disse que o ex-vereador afirmou à CPI não ter feito nomeações. A respeito de Demóstenes, ele respondeu que sim. "Pessoas qualificadas, que estão em vários órgãos. Mas nunca tratou comigo de qualquer pleito relacionado a Cachoeira."

Auxiliares exonerados
Perillo comentou sobre a sua ex-chefe de gabinete, que pediu exoneração após divulgação de áudios que apontavam que ela recebia informações privilegiadas sobre operações policiais cujo alvo seria o grupo de Cachoeira.

"A sra. Eliane Pinheiro era encarregada dos assuntos partidários. Trabalhou durante 20 anos em vários governos, inclusive no meu. Ela trabalhava atendendo aos partidos e aos parlamentares, em sala distante da minha. Nunca pediu pra favorecer nada a nenhuma pessoa ligada aos investigados. Ela saiu do meu governo por se sentir contrangida. Eu não sabia das relações dela com o Cachoeira", declarou.

Sobre o presidente do Departamento de Trânsito em Goiás (Detran-GO), Edivaldo Cardoso, que pediu exoneração após denúncia de elo com Cachoeira, Perillo afirmou que nunca recebeu pedidos do auxiliar.

"Edivaldo nunca me apresentou qualquer pedido de interesses de outra pessoa. A única conversa que teve comigo sobre o Cachoeira foi quando me convidou para um jantar em sua residência e disse que entre os convidados estaria o sr. Carlos Augusto Ramos. Nesse contato informal, ouvi do convidado propostas de isenção fiscal [relativas ao laboratório]", afirmou.

Jornalista
O governador também falou sobre suposto pagamento recebido pelo jornalista Luiz Carlos Bordoni, que atuou em sua campanha eleitoral. Bordoni diz ter recebido da campanha de Perillo pagamento depositado na conta de sua filha de uma empresa apontada pela PF como laranja que abastecia o esquema de Cachoeira.

O relator Odair Cunha disse que Bordoni afirmou que prestou serviço por R$ 170 mil enquanto que o governador afirma que pagou R$ 33 mil. Cunha destacou fala de Bordoni, de que recebeu R$ 40 mil em dinheiro da mão do governador e que Perillo teria tirado dinheiro de um frigobar.

"Bordoni disse que recebeu do sr. R$ 40 mil em dinheiro, foi o primeiro pagamento, disse que o senhor tirou o dinheiro dentro de um frigobar. Disse Bordoni: só podia estar desligado porque o dinheiro não estava gelado", afirmou o relator, que arrancou risadas dos demais parlamentares.

Perillo rebateu: "Ele tem que provar isso na Justiça. Nesse escritório tem um pequeno gabinete, que tem frigobar, quadros, mas que todo mundo conhece. Claro que qualquer pessoa que tenha passado por lá tem condições de descrever essse ambiente."

Doações
O relator citou que a PF afirma que Rossini Guimarães, sócio de Cachoeira em empresa de segurança, doou recursos para campanhas do PSDB em Goiás. Perillo afirmou que recebeu doações de Rossini e que constam na prestação de contas. Perillo diz que desafia qualquer pessoa a provar que houve direcionamento em licitações no seu governo.

Perillo nega que tenha recebido doações da Delta para sua campanha. "Mas eles podem ter feito colaboração através da empresa de Rossini’, pergunta Odair Cunha. “Pode ter. Não sei”, disse Perillo.

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