Não conheço missão maior e mais nobre que a de dirigir as inteligências jovens e preparar os homens do futuro disse Dom Pedro II

quinta-feira, 14 de junho de 2012

CPI DO CACHOEIRA GENÉRICA - Grupo articula a oitiva de Pagot à revelia da CPI





A CPI do Cachoeira está prestes a ganhar um afluente. Um grupo de congressitas articula a realização de uma sessão paralela para colher, à margem da CPI, o depoimento de Luiz Antônio Pagot, o ex-diretor-geral do Dnit.

A articulação foi inaugurada no início da tarde desta quinta (14), depois que a CPI derrubou, por 17 votos a 13, requerimento de convocação de Pagot. Na mesma sessão, caiu o pedido de oitiva de Fernando Cavendish, da Delta Construções.

Coube ao deputado Miro Teixeira (PDT-RJ) sugerir a composição dessa espécie de ‘CPI do B’ para ouvir o que Pagot tem a dizer. Convidado a presidir o grupo, o senador Pedro Simon (PMDB-RS), que não integra a CPI oficial, aceitou.

“Vamos fazer a sessão. Agora só depende do senhor Pagot”, disse Miro ao blog. “Se ele disser que vem, será ouvido. Se não vier, então que vá para o inferno. Comunicaremos aqui que ele não quis vir.”

Na hipótese de ser viabilizada, a sessão ‘fala Pagot’ será aberta a qualquer parlamentar que dela queira participar, não apenas ao grupo de insurretos da CPI. A ideia de Miro é a de dar consequência ao eventual depoimento de Pagot.

“Conforme o que ele disser, fazemos uma notícia-crime e remetemos à Polícia, pedindo que ele seja ouvido formalmente. Aqui, numa dependência do Congresso, com a presença de um delegado e a assistência dos parlamentares.”

O debate sobre Pagot e Cavendish eletrificou a sessão da CPI. Relator da comissão, Odair Cunha (PT-MG), propôs o “sobrestamento” da convocação da dupla. Alegou que não é o momento de convocá-los.

Sobre Cavendish, Odair argumentou que, antes de ouvi-lo, a CPI precisa destrinchar os dados referentes à Delta, cujos sigilos bancário, fiscal e telefônico já foram quebrados pela CPI.

Em relação a Pagot, o relator argumentou que a convocação deve obedecer à conveniência da CPI, não à vontade do personagem. Na véspera, em conversa telefônica com o senador Simon, Pagot reiterara o que já havia declarado em entrevistas: dispõe de informações “relevantes” e deseja depor.

Em tese, as alegações de Odair poderiam fazer sentido. Perderam o nexo no instante em que o relator fez ouvidos moucos a uma ponderação: a convocação seria aprovada e as datas dos depoimentos seriam definidas na hora própria.

De costas para a lógica, a maioria governista da CPI –liderada por PT e PMDB e adensada por legendas menores do condomínio— votou com o relator. Ficou entendido que a banda majoritária da CPI teme ouvir Cavendish e Pagot.

A voz de Cavendish, nunca é demasiado recordar, soou numa gravação feita às escondidas por dois ex-sócios. Ele disse coisas assim: “Se eu botar R$ 30 milhões na mão de políticos, eu sou convidado pra coisa pra caralho! Pode ter certeza disso, te garanto. Se eu botasse dez pau que seja na mão de nêgo… Dez pau! Ah… Nem precisava de muito dinheiro não, mas eu ia ganhar negócio. Ôooo…”

Ou assim: “Estou sendo muito sincero com vocês: R$ 6 milhões aqui, eu ia ser convidado. Ô, senador fulano de tal, eu tenho cinco convites aqui. Toma, tá aqui ó. Pá! Se convidar, eu boto o dinheiro na tua mão.”

São frases que, num Congresso feito de honradez, inspirariam um desejo irrefreável de ouvir o autor. Mas a CPI prefere fingir que os comentários não existiram. Inconformado, Miro disse na sessão desta quinta que a “tropa do cheque” impede a convocação do presidente licenciado e sócio majoritário da Delta.

Cândido Vaccarezza (PT-SP), contrário à presença de Cavendish na CPI, saltou da cadeira. Respondeu à provocação de Miro em pé: “Eu não integro nenhuma bancada do cheque.” Declarou que é preciso manter o “foco da CPI”, cujo objeto é a investigação da quadrilha de Cachoeira.

Sobre o ex-diretor do Dnit, Vacarezza ecoou o companheiro Odair: “Chamar o Pagot aqui é para discutir contribuições de campanha. Isso não é foco dessa CPI.” Numa das váriasentrevistas que concedeu, Pagot acusou o tucano José Serra de fazer caixa dois e disse que foi acionado pela tesouraria da campanha de Dilma Rousseff para ajudar na coleta de fundos eleitorais junto a empreiteiras.

Na conversa com o blog, Miro explicou o sentido da expressão que cunhou: “Você tem uma CPI para investigar Cachoeira e seus negócios ilícitos. Tem a Delta botando dinheiro em empresas fantasmas do Cachoeira. E você não quer ouvir o presidente da companhia e o ex-diretor do depatamento que mais tem contratos com a empreiteira! O senhor Cavendish disse que, com R$ 30 milhões, resolve qualquer coisa. Com R$ 6 milhoes compra senador. É esse cara que não querem ouvir?”

Os líderes do PSDB, senador Alvaro Dias (PR) e deputado Bruno Araújo (PE), também protestaram contra o encaminhamento de Odair. A exemplo de Miro, Alvaro realçou o inusitado da não-convocação de Cavendish: “Ele afirmou que compra políticos e pode comprar um senador por R$ 6 milhões. É urgente, inadiável e imprescindível a oitiva desse homem. Estamos preparados, sim, para interrogá-lo.”

No microfone da CPI, o senador Pedro Taques (PDT-MT), como Miro um integrante da ala governista ma non tropo, evocou expressão ouvida de um colega: “O pagot é fio desemcapado”. Acrescentou: “A Delta recebeu R$ 4 bilhões do governo em menos de 10 anos, principalmente por meio do Dnit. Não ouvi-los neste momento é transformar isso aqui numa CPI café-com-leite, numa farsa.”

Sob o pretexto do adiamento, outras razões movem o bloco governista. Ouvindo-se Pagot, injeta-se na CPI o caixa dois das campanhas e as obras do PAC. Convocando-se Cavendish, vai ao banco da comissão um íntimo amigo do governador do Rio Sérgio Cabral (PMDB). São coisas que não interessam nem ao PT nem ao PMDB.

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