Não conheço missão maior e mais nobre que a de dirigir as inteligências jovens e preparar os homens do futuro disse Dom Pedro II

quinta-feira, 7 de junho de 2012

SAÚDE NO RJ - 24 horas de tensão, medo e superação atrás de uma ambulância do Samu


Por Flávia Junqueira e Thamyres Dias
EXTRA


Correr atrás de uma sirene ligada não é das sensações mais agradáveis. O estresse vai até a ponta do fio de cabelo. A respiração chega a faltar. Não sabíamos quando a ambulância do Samu sairia do quartel, ou qual era o motivo do chamado. Mas não podíamos perdê-la no trânsito ou sermos surpreendidos por um sinal fechado. Foi dessa forma que, sem o conhecimento do Corpo de Bombeiros, conseguimos acompanhar um plantão de 24 horas de uma equipe do Samu, na Zona Norte do Rio, relatado aqui, no quinto dia da série “S.O.Samu”.

Às 7h10m de uma quarta-feira de março, estacionamos o carro próximo à porta do quartel dos bombeiros. Motor ligado, esperávamos a saída de uma ambulância. A manhã passou e nada. Revezamento de cochilo. Vontade de ir ao banheiro. Fome. Arriscamos sair do carro para almoçar. Cinco minutos após voltarmos, a tão aguardada ambulância cruza o portão e sai em alta velocidade. Nosso piloto é preciso e chegamos junto com a equipe ao Boulevard 28 de Setembro, onde uma idosa havia desmaiado e caído. De lá, seguimos o Samu até o Hospital do Andaraí.

Os bombeiros não entendem nada. Nos olham atravessado. Mas, ao lado deles, sentimos na pele o que é esperar, esperar... em pé, sentado no carro, calor, banheiro sujo de hospital, lanchonete de hospital. Dureza! Mais de três horas depois, a maca é liberada. De volta ao quartel. Olho fixo no portão. Esperamos pouco. Lá vai a ambulância. E nós também.

Uma mulher desacordada é socorrida no Engenho Novo Foto: Guilherme Pinto

Chegamos a um condomínio no Engenho Novo. Uma mulher que teria problemas psiquiátricos e era viciada em álcool estava desacordada. Os filhos pequenos, com olhos arregalados, acompanhavam o socorro. A mulher é levada e as crianças ficam entregues aos vizinhos. E eu, que estava com receio de ver uma cena muito feia, acabei chocada por situação tão triste.

Na porta do Salgado Filho, mais espera pela maca. E a fome aperta. No carro, só água. O chocolate já havia acabado. Às 20h19m, a equipe do Samu que perseguíamos recebe autorização para voltar ao quartel e jantar. Ufa! No fim do dia, eles já haviam comunicado ao oficial que estavam sendo seguidos pela equipe do EXTRA. Ainda assim, temendo punição, mal falavam conosco.

Bombeiros socorrem um motoqueiro que estava desorientado após bater com um carro
Foto: Fabiano Rocha

Às 20h40m, chegou a rendição para o plantão. O trabalho dos bombeiros, porém, ainda continuaria por 12 horas. No começo da noite, era difícil ficar no carro, em frente ao quartel. A espera incomodava. Decidimos comer pizza. Justo na hora, soa a sirene. Aos gritos de “guarda a pizza, a gente volta”, corremos para o carro e seguimos a viatura até um acidente, em Vila Isabel. Às 21h48m, a equipe do Samu levou a vítima para exames no Souza Aguiar. E lá fomos nós para o Centro. O atendimento foi rápido e nós voltamos para o quartel... e para a pizza.

Quase duas horas passariam até o próximo chamado, que nos levou, desta vez, ao Andaraí. Não deu tempo. O oficial médico apenas atestou o óbito da mulher, vítima de um mal súbito.

Um jovem que tinha crises epilépticas chega ao Hospital Salgado Filho Foto: Fabiano Rocha

Voltamos para o carro e para a espera em frente ao quartel. Na última saída da noite, acompanhamos - de longe - o resgate de um jovem com epilepsia, que morava próximo a uma boca de fumo. Sufoco! Levado para o Salgado Filho, o rapaz ficou bem, mas a maca da ambulância continuou presa. O sono já nos vencia, mas não os bombeiros, acostumados a não dormir. Às 8h, vamos embora. Uma nova equipe assume a ambulância e enfrenta os velhos problemas.

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